A síndrome do impostor tem sido monitorada de perto pelos pesquisadores em saúde mental nos últimos anos. Mais de 70% da população mundial tem sintomas relacionados ao transtorno: ansiedade, insegurança e dúvidas em relação à própria capacidade, num contexto profissional ou acadêmico.
Mesmo se tratando de uma síndrome relativamente nova, os casos e sintomas não param de ser reportados. Desde o início da pandemia, os novos modelos de trabalho, a maioria deles a distância, despertaram inseguranças em relação ao desempenho e realizações profissionais, fazendo com que esse número crescesse ainda mais.
Mais do que um sentimento de insegurança, a síndrome do impostor é definida por uma incapacidade de internalizar o sucesso. Independentemente das realizações e esforços que a pessoa faça em relação à vida profissional, a sensação é de que nada é suficiente e que todos os resultados, por melhores que sejam, acontecem apenas por sorte.
Os gatilhos para essa síndrome geralmente estão associados a uma nova promoção ou função de liderança no trabalho que inclua mais responsabilidade ou visibilidade. Não se sentir seguro ou com o domínio da situação também pode ser um agravante. Neste caso, a pessoa promovida, por exemplo, não se considera capaz de executar as tarefas daquela nova função, mesmo sua liderança acreditando no contrário. Por isso, pessoas perfeccionistas têm maior probabilidade de desenvolver o transtorno.
Diferentes perfis de pessoas podem desenvolver a síndrome do impostor, mas existem certos indicativos no histórico emocional ou familiar que podem servir de alerta.
“Há muito tempo, os pesquisadores relacionam a síndrome do impostor com situações em que a criança foi chamada de inteligente com frequência e sentiu que precisava manter esse patamar a custo de muito esforço. Ou, se você fosse um trabalhador esforçado, não se sentir naturalmente dotado para nada, sempre penando mais do que a média para realizar as coisas. Isso deixa as pessoas com a sensação de que não há nada individualmente forte, habilidoso ou único nelas.”, explica a psicóloga Dra. Lisa Orbé-Austin, especialista na síndrome.
Para pessoas com síndrome do impostor, é comum também a autossabotagem como forma inconsciente de reafirmar a sensação de incapacidade; a pessoa estabelece metas que não pode cumprir, o que resulta em falhas. Consequentemente, confirmam-se suas crenças sobre “ser uma fraude”. Perder um prazo é um exemplo simples de autossabotagem que alimenta o ciclo do impostor.
Enquanto a autossabotagem pode ser mais difícil de ser identificada sem o auxílio de um psicólogo, outros sintomas podem ajudar a perceber que é hora de procurar ajuda:
- Pensamentos repetitivos sobre ser uma farsa, unidos à possibilidade de ser desmascarado por alguém
- Associação dos resultados do trabalho e do esforço à sorte e/ou interferência de terceiros
- Sentimento constante de não ser qualificado para o trabalho que se está fazendo, mesmo que isso nunca tenha sido apontado por superiores ou pela equipe
- Necessidade constante de provar que é capaz no ambiente de trabalho, associada à frustração ou tristeza intensa
- Dificuldade de aceitar feedback positivo em relação ao trabalho
Estudos sobre o comportamento de “impostores”, liderados pela pesquisadora Basima Tewfik, trouxeram descobertas importantes sobre os reflexos da síndrome no ambiente de trabalho.
Se, por um lado, a síndrome do impostor pode ser debilitante e demandar a busca por ajuda, por outro, nota-se que existe uma lacuna entre a forma como as pessoas acometidas percebem a própria competência e a forma como são vistas, enquanto profissionais, pelas pessoas ao seu redor.
No mesmo estudo, é possível perceber que as pessoas que sofrem dessa síndrome são os mais cooperativos, empáticos e curiosos no ambiente de trabalho, desenvolvendo melhores habilidades interpessoais. Como uma forma de compensar a insegurança em relação aos próprios resultados, elas têm tendência a se tornar mais sensíveis ao ambiente e às pessoas que as cercam.
Existem muitos mecanismos que podem ser aplicados no dia a dia para ajudar a enfrentar as sensações trazidas pela síndrome do impostor. Entender como o comportamento em relação ao trabalho funciona é imprescindível para aprender a lidar de forma saudável com ele.
Algumas ideias que podem ser exploradas para frear os pensamentos negativos e transformar a insegurança em motivação:
- Lembrar-se de que há um motivo por trás do reconhecimento profissional. Ao longo dos anos, adquirimos habilidades, aprendemos e trabalhamos muito, o que nos torna qualificados para estarmos onde estamos hoje
- Todo aprendizado é um processo. Às vezes, pode ser mais difícil no início, mas é possível dominar novas habilidades o tempo todo. Fazer uma comparação com aprender a dirigir, andar de bicicleta ou aprender um novo idioma pode ajudar a entender melhor esse paralelo. Buscar na memória outros aprendizados adquiridos ao longo da vida é uma estratégia que pode ajudar em momentos de tensão
- Eleger prioridades. Entender o que se pretende aprender ou aperfeiçoar com uma experiência ajuda a criar uma jornada de desenvolvimento pessoal e também a aproveitar ainda mais o momento
A síndrome do impostor pode se desenvolver de formas e com intensidades diferentes para cada pessoa, por isso, o mais adequado é sempre procurar ajuda de um profissional para estabelecer um diagnóstico e o ritmo como o acompanhamento será feito.
É importante estar atento aos próprios sintomas. A síndrome do impostor pode facilmente evoluir para um quadro de burnout ou estresse crônico e é essencial entender que isso não precisa ser superado sem auxílio.
Um psicólogo pode ajudar a compreender melhor o histórico pessoal do paciente e como isso tem refletido em seu comportamento. Com acompanhamento, é possível encontrar a solução mais adequada.
Este artigo foi publicado no Portal de Saúde - Unimed Brasil.
Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil
Fonte: Medicina UFMG, UFSM, Forbes
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