A gravidez na adolescência é uma situação comum a muitas famílias e tabu para outras, mas é, ainda, um tema de saúde pública. Você sabia que a falta de acesso à informação é uma das principais causas do alto índice de gravidez na adolescência no Brasil?
Apesar da redução vista nos últimos anos, o assunto ainda preocupa. Isso porque ele está diretamente ligado à saúde física e emocional dos jovens, e ainda tem consequências sociais, como a evasão escolar e maior taxa de desemprego.
Seja para evitar uma gravidez indesejada, ou para lidar com o fato de forma mais saudável, a informação e o diálogo aberto são as melhores ferramentas.
De acordo com informações divulgadas pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), um em cada sete bebês é filho de mãe adolescente. A cada hora, nascem 48 bebês no Brasil de gestações na adolescência.
Outros dados que chamam a atenção são:
Em 2019, dos nascimentos no Brasil, 19.330 foram de mães de até 14 anos. Isso significa que, a cada 30 minutos, aproximadamente uma menina de 10 a 14 anos tornou-se mãe (Febrasgo).
Segundo dados do DATASUS/SINASC, de 2000 até 2019, a taxa de fecundidade em adolescentes de 15 a 19 anos caiu em 40,7%. Já entre as adolescentes de 10 a 14 anos, essa taxa foi reduzida em 26,5%.
Há uma redução nas taxas de gravidez na adolescência na última década, mas ela ainda é alta, quando comparados a outros países. No Uruguai, por exemplo, somente entre 2015 e 2018, os números foram reduzidos à metade no grupo de adolescentes de 15 a 19 anos (Febrasgo).
Na América Latina, a taxa de fecundidade na adolescência é a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da África subsaariana. A título de comparação, a taxa brasileira é de 68,4/1000; a da América do Sul é de 66/1000 e da América do Norte, 28/1000 (PAHO, WHO, UNFPA e UNICEF).
Das gestações que ocorrem na adolescência, 66% não são intencionais. Isso quer dizer que, a cada 10 adolescentes que engravidam, 7 afirmam ter sido sem querer, de acordo com artigo publicado na PubMed.
Mas o que ainda faz com que isso aconteça com tanta frequência no Brasil e no mundo?
Quais podem ser as causas?
São diversos os fatores relacionados à gravidez na adolescência. Além da descoberta da sexualidade, natural da fase, existem outras questões associadas à maternidade precoce, como pobreza extrema, violência sexual, falta de acesso a métodos anticoncepcionais e casamentos infantis organizados pelas próprias famílias.
Portanto, há aspectos culturais e socioeconômicos que impõem grande influência, sendo que a falta de informação é uma das principais causas.
De acordo com o relatório “Acelerando o progresso em direção à redução de gravidez na adolescência na América Latina e no Caribe” (em tradução livre), adolescentes que não têm acesso à escola, ou apenas à educação primária, estão quatro vezes mais suscetíveis à gravidez precoce do que quem fez o Ensino Médio ou o Ensino Superior.
Como a gravidez precoce pode afetar a vida dos adolescentes
Uma gravidez na adolescência tem consequências em diversos âmbitos, como a saúde física e mental, a educação, a vida profissional e a autonomia na fase adulta. Por isso, é tão importante que o tema seja encarado com sensibilidade e empatia.
A gravidez na adolescência é considerada de alto risco para as meninas, podendo acarretar diversos problemas de saúde como hipertensão e anemia, além de episódios de morbimortalidade, quando a adolescente vem a óbito na gravidez ou no parto.
Também é importante considerar que, nesse momento da vida, ainda não há total maturidade para assumir plenamente o papel de mãe ou de pai. Isso pode gerar problemas socioemocionais para a família toda.
Além disso, os custos de uma gravidez, do parto precoce e o do sustento de uma criança podem ser elevados a depender do contexto em que a jovem está inserida, o que impacta diretamente em sua qualidade de vida. Dados do IBGE mostram que seis entre dez adolescentes grávidas não trabalham e não estudam. Entre as adolescentes mães que estudam, muitas tendem a abandonar os estudos para criar os filhos.
Nesse sentido, elas têm três vezes menos oportunidades de conseguir um diploma universitário e ganham, em média, 24% a menos do que mulheres da mesma idade e sem filhos, segundo um relatório do Fundo das Nações Unidas para a População.
Antes de entender como evitar que a gravidez na adolescência aconteça, é preciso considerar que ações nesse sentido devem vir de diversas áreas, como família, comunidade, instituições, o Estado etc. Ou seja, é um conjunto de informações e ações vindas de áreas diferentes que são capazes de ajudar a evitar uma gravidez precoce e muitas vezes indesejada.
Especificamente em casa, o diálogo entre mães, pais e responsáveis com os adolescentes é imprescindível. As conversas devem acontecer a partir de orientações para que eles saibam agir com sensatez e responsabilidade. É um trabalho que começa desde cedo, ajudando crianças a identificar o que é abuso e incentivando a educação sexual, por exemplo.
Em determinado momento, é preciso falar sobre métodos contraceptivos, buscando entender qual é o melhor anticoncepcional e abordar a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, tanto com os meninos quanto com as meninas.
Os adolescentes vivem uma fase de transição, em que buscam a própria identidade e têm inúmeros questionamentos. O importante é que as trocas de informações e relatos sejam baseadas no respeito, para que eles saibam que têm na família uma fonte de apoio.
A primeira coisa a fazer em caso de suspeita de gravidez é lembrar à possível gestante que ela não está sozinha - e o envolvimento do pai da criança também faz parte disso. Por mais que a situação não seja esperada pela família, o acolhimento e a busca por orientação médica são fundamentais para lidar com a questão da melhor forma possível - preservando a saúde da mãe e da criança.
O exame para confirmação da gravidez pode ser feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou em laboratório com requisição médica. A partir daí, é preciso dar início ao pré-natal, momento em que é recomendada a participação da mãe, do pai e do apoio da família.
Vale lembrar que, mesmo diante de uma gravidez, os direitos das adolescentes permanecem os mesmos. Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente afirmam que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar certos direitos aos adolescentes, como vida, saúde, educação, profissionalização, lazer, dignidade e cultura. Isso significa, por exemplo, que a adolescente não precisa abandonar a escola.
Em alguns casos, ainda é preciso cuidar bem da saúde mental para receber a nova criança, então vale buscar o apoio de profissionais da psicologia, tanto para a gestante, quanto para o pai e familiares.
Este artigo foi publicado no Portal de Saúde - Unimed Brasil.
Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil
Fonte: Febrasgo, Gov. RJ, Senado, Secretaria da Justiça SP, Accelerating progress toward the reduction of adolescent pregnancy
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