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Depressão na pandemia


A pandemia do COVID-19 está colocando a sociedade em um momento incomparável em questões de impactos nocivos à saúde mental.


O isolamento social e a quarentena estão sendo monitorados de perto como as principais causas de um possível desenvolvimento ou aumento do estresse, da ansiedade, da depressão, e por consequência, da ideação suicida, durante esse período de pandemia. Mas, para os profissionais da saúde mental, existem outras questões que também podem ser associadas ao agravamento desses sintomas e distúrbios.


A depressão pode ser uma doença silenciosa, que ataca do adolescente ao idoso, e há uma série de sinais para ficar alerta e procurar acolhimento profissional.


Médicos de diversos países têm buscado entender melhor as correlações entre o agravamento de casos já existentes de depressão e o surgimento de novos casos.


Já é possível notar que o aumento da busca por ajuda psicológica por jovens e adolescentes teve um crescimento pontual em alguns países, relacionado a um período de aumento de medidas restritivas de lockdown ou de mortes por COVID-19.


Para os adultos, é possível entender os agravamentos pelo maior de consumo de álcool. E isso não é apenas apontado em pesquisas. Diversos países adotaram medidas restritivas de venda de álcool para diminuir o consumo da população, como foi o caso da Índia e da África do Sul.


É preciso também entender que a forma como consumimos informação hoje é um agravante: estamos hiperinformados. Temos acesso muito mais universalizado às notícias de tudo o que acontece no mundo, mas também mudamos nossa forma de consumi-las: com a internet e as redes sociais, essa avalanche de notícias - que muitas vezes pode vir cheia de fake news – pode acarretar um aumento do nível de estresse e da ansiedade.


É importante selecionar os canais por onde você se informa: procure sempre por canais oficiais e confiáveis e escolha uma hora do dia específica para isso. Esse simples hábito pode te ajudar a evitar um bombardeio de informações, te dando mais tempo para processar e lidar com tudo.


Outra preocupação constante durante a pandemia é o aumento iminente dos casos de suicídio. No entanto, até agora, as pesquisas apontam que o número não cresceu em nenhuma faixa etária.


Diversos fatores estão ligados a isso, mas dois se destacam: a curva de suicídios que tende a crescer após o período de pandemias e a normalização da busca por ajuda profissional.


Os números de suicídio historicamente tendem a crescer após o período de pandemia por causa das consequências econômicas, como diminuição da oferta de empregos, demissão, inflação e outros fatores da mesma natureza que geralmente têm impactos muito profundos no nosso dia a dia e que parecem muito maiores quando vistos junto ao período de recuperação e do retorno à vida normal.


Por outro lado, o aumento da oferta de ajuda e da sinalização da importância de cuidarmos da nossa saúde mental durante este período servem para diminuir o estigma acerca dos distúrbios mentais como a depressão e a ansiedade, que podem levar à ideação suicida. Ou seja, mais pessoas estão dispostas a procurar ou aceitar ajuda.


Não é preciso ter um caso na família de alguém com COVID-19, ter perdido alguém próximo para a doença ou ter contraído a doença para procurar apoio psicológico.


Isso porque a própria natureza complexa da depressão está além dos rótulos e pode atingir qualquer um de nós. É preciso estar atento aos sinais e procurar ajuda.


Existem algumas diferenças entre sintomas de jovens, adultos e idosos. Em crianças e adolescentes é preciso observar:

  • Irritação ou agitação excessiva

  • Sentimento de tristeza, baixa autoestima e impotência

  • Tentativas prévias de suicídio

  • Relatos de negligência ou de violência psicológica (humilhação, agressões verbais), física ou sexual

  • Problemas de saúde mental da criança, do adolescente e/ou de seus familiares, especialmente a depressão e ansiedade

  • Uso de álcool e/ou outras drogas

  • Histórico familiar de suicídio

  • Ambiente familiar hostil

  • Falta de suporte social e sentimentos de isolamento social

  • Sofrimento e inquietações sobre a própria sexualidade

  • Interesse por conteúdos de comportamento suicida ou automutilação em redes sociais virtuais

Em adultos, entretanto, é importante identificar:

  • Isolamento afetivo e sentimento de solidão

  • Sentimento de desamparo e desesperança

  • Autodesvalorização

  • Aquisição de material para auxiliar em suicídio

  • Crise existencial

  • Exposições frequentes a situações de risco

É preciso também atenção especial para o idoso, que foi o principal grupo de risco da COVID-19 durante mais de um ano. Muitos idosos durante este período viveram em isolamento e diminuíram seu convívio social.


Este é um momento extremamente delicado para aqueles que já fazem parte de um grupo sensível à solidão, e que agora podem ter sido submetidos ao luto por perda de amigos próximos e familiares. Alguns sinais são:

  • Busca pelo isolamento ou desinteresse pela família. Atitudes como tentar evitar ligações ou chamadas de vídeo podem indicar que o idoso está em algum tipo de sofrimento

  • Aumento de queixas sobre dores no corpo, falta de apetite, dificuldade para dormir e perda de memória

  • Irritabilidade, ansiedade, insônia e confusão mental. Em pacientes que têm algum quadro de doença cognitiva, esses sintomas podem se agravar

  • Preocupação com a morte e o morrer. Frases como “eu estaria melhor morto”, podem evidenciar sinais de angústia

Observar a frequência de declarações autodepreciativas pode ajudar a entender o que o idoso está passando. Frases como: “não quero ser um peso para ninguém”, “é melhor você não ter que se preocupar comigo”, “sinto que vivi por muito tempo” ou “gostaria de poder dormir e não acordar”, podem ser formas de sugerir a ideação suicida para sinalizar algum sofrimento psíquico muito grande.


Ainda há muita desinformação sobre o suicídio. Por isso, reunimos aqui quatro mitos sobre o tema.


“A pessoa que quer tirar a própria vida não avisa nem dá sinais da sua intenção”.

Isso é mito – Na maioria das vezes, os suicídios são premeditados e a pessoa dá sinais da sua intenção suicida, seja com frases autodepreciativas, tentativas de se machucar ou de se excluir do convívio social.

“Pessoas que falam em suicídio só querem chamar a atenção. Quem fala não faz”.

Isso é mito – Se a pessoa está falando em morrer, ela está em sofrimento e precisa de ajuda. Nesse sentido, o “chamar a atenção” pode ser um pedido de socorro. Essas falas não devem ser ignoradas.

“Falar sobre suicídio pode estimular sua realização”.

Isso é mito – Perguntar sobre a intenção suicida abre espaço para a conversa e para a busca de ajuda.

“O suicídio não pode ser prevenido. A pessoa que quer morrer já está decidida”.

Isso é mito – Reconhecer os sinais de alerta e buscar ajuda profissional ajuda a prevenir o suicídio e a encontrar novos caminhos para valorizar a vida.


Se você identificar algum desses sintomas, busque ajuda médica.



Este artigo foi publicado no Portal de Saúde - Unimed Brasil.

Texto: Agência Babushka | Edição e Revisão: Unimed do Brasil

Fontes: Fiocruz, Pedmed, The Lancet Psychiatry

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